preconceitos

Mesmo com avanços, mulheres ainda são vítimas de preconceitoNúmeros revelam progresso, entretanto há muito a ser feito para diminuir desigualdade entre os sexosFernando Leite/Jornal OpçãoLorena de Oliveira, viúva do cronista esportivo Valério Luiz: ofendida verbalmente por advogado em pleno tribunalFrederico VitorNa semana que antecedeu o Dia Interna­cional da Mulher, um fato chamou atenção para a questão feminina na sociedade. No julgamento realizado no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), que decidiu o habeas-corpus para soltura do cartorário Maurício Sampaio, acusado pela polícia de ser o mandante do assassinato do cronista esportivo e radialista Valério Luiz de Oliveira — morto a tiros ao sair da Rádio 820 AM, no dia 5 de julho do ano passado —, o advogado do tabelião, Neilton Cruvinel Filho, roubou a cena. O defensor, ao bater boca com a viúva de Valério, Lorena Nascimento e Silva de Oliveira, em um ímpeto de grosseiria, mandou a advogada “rodar bolsinha na esquina”.Tal fato remete que, mesmo entre os cidadãos esclarecidos e de instrução, ainda reina um machismo velado, além de uma ideia antiquada de que a mulher se resume a papeis secundários, nunca nivelados aos pares do sexo masculino. Na sexta-feira, 8, comemorou-se — alguns preferem reflexões à comemorações — o Dia Internacional da Mulher. Nesta data, o que se percebe é uma ação simplória, visivelmente machista, para reduzir a um emblema, um processo histórico que sempre relegou à mulher um papel subalterno na condução do drama humano.
No caso da advogada em específico, Lorena de Oliveira afirma que prestará queixa contra o advogado, além de acioná-lo no Conselho de Ética da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Goiás (OAB-GO). “Senti-me invadida. As pessoas aproveitam de minha dor e de meu sofrimento. Em vez de defender seu cliente, a única coisa que ele faz é atacar as pessoas que estão lutando por justiça. Fico indignada. Isso só agrava a situação de Maurício Sampaio.” O advogado Neilton Cruvinel Filho foi procurado, mas a reportagem não conseguiu localizá-lo para comentar o fato.
Os preconceitos contra as mulheres vêm de muito longe. Estão nos ditados e nas canções de diversos povos. Seja nos conselhos dos mais velhos, seja na obra de filósofos, em sermões religiosos ou nos textos de pensadores. Não é muito difícil encontrar alguns focos desse preconceito tanto na religião quanto na literatura. A ONU designou o dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher. A escolha da data remete ao 8 de março de 1857. Naquele dia, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, 159 operárias de uma indústria têxtil foram queimadas vivas em uma fábrica durante uma greve em que reivindicavam igualdade salarial.
Somente em 1932, durante o governo Getúlio Vargas, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar e de se candidatar. Nas eleições de 1933, a médica, escritora e pedagoga Carlota Pereira de Queirós foi eleita a primeira deputada federal. Eleita pelo Estado de São Paulo em 1934 fez a voz feminina ser ouvida no Congresso Nacional. A imagem da mulher, ao longo da história, sempre esteve ligada à fragilidade e à submissão. No que a História classifica como Antiguidade, o pensador grego Platão dizia que “os homens covardes que foram injustos durante sua vida, serão provavelmente transformados em mulheres quando reencarnarem”. Aristóteles, também filósofo da Grécia antiga, afirmava que “a fêmea é fêmea em virtude de certas faltas de qualidade.”
O grande problema crônico enfrentado pelas mulheres ainda é a violência e a intolerância, um flagelo global que afeta milhões em todo o mundo. De acordo com a entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, até 70% das mulheres em alguns países enfrentam violência física ou sexual em sua vida. Em países como Austrália, Canadá, Israel, África do Sul e Estados Unidos, a violência de um parceiro íntimo representa de 40% a 70% das vítimas de assassinato do sexo feminino. Além disso, cerca de 140 milhões de meninas sofrem mutilação genital e outros milhares são submetidas a casamentos forçados e tráfico.
Michele Cunha Franco, advogada e professora universitária, mestre e doutoranda em Sociologia na Universidade de Alberta no Canadá, afirma que as mudanças em relação ao preconceito contra a mulher são processuais e lentas. Ela reconhece que houve inegáveis avanços nos últimos anos, entretanto há um longo caminho pela frente. “No caso brasileiro é complicado falar em termos genéricos, pois as conquistas foram alcançadas por mulheres provenientes das camadas sociais privilegiadas, no sentido de terem mais acesso ao dinheiro, educação e oportunidades. Absur­damente diferente daquelas pertencentes às baixas camadas sociais.”
A socióloga se considera otimista em relação à posição feminina comparada ao homem, apesar de ter consciência de que as mudanças demandam tempo. “Sou otimista, mesmo sabendo que muitos obstáculos ainda são impostos, como por exemplo, o fanatismo religioso e, infelizmente, algumas convicções que tendem a inferiorizar a mulher.”
Em relação ao machismo, Michele Franco explica que varia de cultura para cultura. “A cultura brasileira é patriarcal, de valores ainda muito fortemente arraigados que naturalizam uma suposta superioridade masculina. Vivo hoje no Canadá, e posso assegurar que as relações aqui tanto no campo profissional quanto no familiar diferem muito ao padrão brasileiro.”A mulher e o mercado de trabalho
Apesar dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo dos últimos anos, como no mercado de trabalho, elas ainda enfrentam preconceitos. Ainda persiste a exclusão feminina na distribuição dos cargos de liderança, mesmo com relativo avanço. No Brasil, as mulheres já são 97,3 milhões, contra 93,4 milhões de homens, entretanto, a maioria dos cargos de chefia e os melhores salários ainda são dominados pelos homens. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ampliaram sua participação na população economicamente ativa, que passou de 44,4%, em 2003, para 46,1%, em 2012. A cada dia aumenta o número de mulheres que assumem o papel de provedoras e chefes de família.
Números divulgados na quinta-feira, 7, pelo Ministério do Trabalho e Emprego apontam para um crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho nos últimos anos. Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS 2011) mostram que o nível de emprego com carteira assinada para as mulheres cresceu 5,93%, em relação ao ano anterior. O posto de trabalho com carteira assinada, ocupado por mulheres, cresceu de 18,3 milhões em 2010 para 19,4 milhões em 2011. No mesmo período, empregos masculinos cresceram 4,49%, passando de 25,7 milhões de postos em 2010 para 26,9 em 2011.
Os dados do Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) apontam para um maior crescimento da participação das mulheres nas atividades de administração pública, restaurantes, de atendimento hospitalar, limpeza em prédios e em domicílios e comércio varejista especializado em eletrodomésticos e equipamentos de áudio e vídeo. Outro setor onde a participação da mulher evoluiu no período foi na construção civil, notadamente em atividades como construção de estações e redes de telecomunicações, áreas até então predominantemente masculinas.
Em relação ao grau de instrução, o maior aumento da participação da mulher foi verificado nas vagas de nível superior, que cresceu 1,32%. No mesmo período esse porcentual masculino foi negativo em 0,13%. Tais números comprovam que a mulher se prepara mais para o mercado de trabalho e vem ocupando mais espaço e melhorando seu salário, diminuindo a gradativamente uma diferença histórica. Em 2012, os dados  informados pelas empresas demonstram que o salário médio real de admissão das mulheres alcançou R$ 917,87, contra 1.067,66 dos homens. Em 2011 esses valores eram R$ 874,63 e R$ 1.019,34.Retrocesso na Comissão de Direitos Humanos A semana foi marcada pela eleição do deputado Marco Feli­cia­no (PSC-SP), conhecido por declarações consideradas como homofóbicas e racistas, para presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados em Bra­sília, na quinta-feira, 7, data antecedente ao Dia Interna­cional da Mulher. A escolha de Fe­liciano foi tida como uma grande manobra da bancada evangélica, que se deu em meio a tensão e protestos pela ala “progressista” do Congresso.Parlamentares ligados à causa dos direitos humanos chegaram a abandonar a reunião, num claro protesto contra o pastor evangélico. Na semana passada, um vídeo na internet mostra o religioso pedindo a senha de um cartão de débito doado por um fiel, em troca de “bênçãos divinas e cura”. Na sexta-feira, 8, o parlamentar negou a suposta extorsão em que aceita doações de fiéis da Assembleia de Deus, na Catedral do Avivamento, sua igreja. O pastor aparece em um vídeo com o cartão de débito na mão e diz: “É a última vez que eu falo. Aí não vale. Depois vai pedir o milagre pra Deus e Ele não vai dar e vai falar que Deus é ruim.” Mas a discussão que se faz é se um integrante da radical bancada evangélica somaria à frágil Comissão de Direitos Humanos e Minorias? Um cidadão dotado de fé pública, ao dissipar discurso ofensivo contra negros e homossexuais traria fratura e não união em prol de uma área tão debilitada e deixada de lado por parte da maioria dos parlamentares. Mas fazer da Comis­são uma arena de disputa ideológica e de defesa de bandeiras tam­bé

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